À espera de nada


Sentado no muro que separa a margem do rio Sena, um sem abrigo olha para o fundo do horizonte, até onde a vista alcança, à espera de vislumbrar um resto de esperança ou de simplesmente nada.
A França da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, será só para os bem-aventurados da vida ou para os que sabem aproveitar as oportunidades. Não faço ideia qual é a sua realidade. Não será apenas culpa alheia. Mas também quem somos nós para fazer esse julgamento? Ele está ali sentado e carrega nas costas e nos braços o que lhe restou da vida ou o que esta lhe proporcionou. Certamente um pedaço de cobertor para se cobrir nas noites frias de Paris. O pouco calor que lhe chega à alma será o conforto mínimo para o manter vivo e acordar no dia seguinte.
Não se percebe o que há por trás de um olhar quando se olha pela primeira vez. Também não fazem falta justificações. A vida está longe de ser justa para todos e mesmo para aqueles que não tiveram a oportunidade de contornar dificuldades.
Ele não faz ideia que o fotografei. Muito menos sabe que lhe dedico estes parágrafos. Hoje estará nas mesmas ruas de Paris a cruzar-se com turistas deslumbrados com a beleza da cidade ou apenas com cidadãos como ele que cruzam as artérias da cidade luz à procura de mais um dia de sobrevivência.
Quem vive na rua não vive, sobrevive. 

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