O Che e as portagens na Via do Infante

Um dos movimentos contra as portagens na Via do Infante convocou-me por e-mail para participar no protesto de amanhã que parte de diversos pontos do Algarve em direcção ao Parque das Cidades. Eu já sabia da iniciativa porque li os folhetos que a anunciavam bem como as faixas que se encontram instaladas nalguns pontos da ER125.
Porque sou ingénuo e bem intencionado, cheguei a equacionar participar, na medida em que as causas justas promovidas por movimentos cívicos, são terrenos férteis onde me sinto bem. Não precisei mais do que um e-mail para concluir que a causa continua justa, mas alguns movimentos não são cívicos, são partidários, e o terreno está contaminado.
No texto que me foi enviado para participar, trazia uma frase que pode motivar muita gente mas a mim não me enche e até vaza. Consta que amanhã é a data do falecimento de Ernesto “Che” Guevara, a quem alguns chamam de libertador mas que no fundo foi mais um revolucionário assassino. Tenham paciência mas não consigo encontrar outras palavras para quem pega numa arma e subtrai vidas humanas e nem o epíteto da guerra civil ou da luta armada em nome da revolução justifica matar. Também foi morto. Bem sei, às mãos de outros assassinos parecidos com ele.
O Che é um símbolo dos movimentos de esquerda e muito em particular do comunismo. Quando o que está em causa é alargar a base de apoio de um movimento, numa causa que é sobretudo cívica e que toca em todos os utilizadores por igual independentemente da ideologia, está-se a afunilar a entrada pela qual algumas pessoas terão de passar se quiserem juntar-se ao protesto. E faz-se isto muito às claras, porque na verdade o que está por trás dos movimentos anti-portagens são sobretudo motivações partidárias. Nada contra desde que as coisas sejam chamadas pelos respectivos nomes. Dir-me-ão que não só mas também. Direi que sobretudo e eu nisso não alinho.
Sou contra as portagens, acho-as uma atitude a roçar o gozo, uma exploração por uma bem que já foi pago, um retrocesso no desenvolvimento da região, um motivo para o aumento da sinistralidade rodoviária e uma significativa perda da qualidade de vida para os algarvios, mas não embarco em comboios destes onde o maquinista leva numa mão a foice e na outra o martelo.
Sou militante de um partido que está aprisionado a esta questão por razões que não são ponderosas, mas sim de circunstância pelo facto de agora se encontrar no governo. Mas eu estou livre no pensamento e na acção e não é por ter um cartão laranja na carteira e as quotas pagas que me ouvirão dizer que isto tem de ser porque não há alternativa. Isto não tem de ser e há alternativa, como aliás sempre houve.
Agora participar numa manifestação porque o Che Guevara levou um tiro a 8 de Outubro, tenham lá paciência mas isso é que não.

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