Um crime e uma morte anunciada

O que está a ser feito ao Algarve e ao seu turismo com a implementação do vergonhoso pagamento de portagens é criminoso. Não consigo dizer a coisa de outra forma. Não se trata aqui de medir quem é mais culpado. Isso para a resolução do problema pouco importa. O que é fundamental é alterar a situação porque a mesma vai ser nefasta para a região e mais tarde não será fácil remediar o que ainda é possível prevenir.

O cenário das filas de turistas, nomeadamente espanhóis, à espera de adquirir títulos para circular na Via do Infante é terceiro-mundista. Faz lembrar a anedota do homem que tem um mosquito dentro de casa e usa a caçadeira para o matar. Não consegue matar o mosquito e destrói tudo à sua volta. Assim é o pagamento destas portagens. Não resolvem nenhum problema de finanças públicas e ainda causa danos na economia regional, nomeadamente no turismo.

O Algarve é uma região de serviços e de turismo, uma vez que os sectores primários, devido à nossa entrada na então Comunidade Económica Europeia, foram dramaticamente reduzidos. Foi a moeda de troca para a entrada dos fundos de coesão que modificaram a paisagem e a vida dos portugueses e nos proporcionaram um conjunto de infra-estruturas que de outro modo não as conseguiríamos construir. Valeu a pena? Com certeza que sim, mesmo sabendo nós que no caso das auto-estradas não temos agora dinheiro para as utilizar.

Sendo assim o Estado não pode simplesmente lembrar-se de criar dificuldades a quem nos visita e ajuda a incrementar riqueza na economia. Isso será um suicídio, uma vez que tudo isto funciona como um castelo de cartas: um toque a mais, por muito ligeiro que seja, e desmorona-se tudo.

Com a construção civil e obras públicas praticamente aniquiladas, o turismo é pouco mais daquilo que resta à economia regional para continuar a gerar postos de trabalhos directos e indirectos. Tendo em conta que o sol ninguém nos tira e as praias e o mar não se deslocalizam, essa riqueza é o forte atractivo do Algarve. Mas não é apenas aqui que existe sol e boas praias. Como tal, se as barreiras e os incómodos forem cada vez maiores e não se perceber que mais valem hotéis e restaurantes cheios em vez de se garantir que alguns visitantes estrangeiros compram os títulos para circular na Via do Infante, a região ira afundar-se ainda mais. Somos a zona do país com a maior taxa de desemprego. Acham que isto não quer dizer alguma coisa?

O que se passou na Páscoa foi apenas um ensaio do que vai acontecer no Verão, nomeadamente em Agosto. Com a 125 semeada de acidentes em cada cruzamento e sem que o Estado tenha condições de a requalificar, o que nos resta é o desespero ou em alternativa menos euros na carteira para pagar a utilização de um bem que já foi pago.

Falo por mim, se tivesse que me sujeitar ao que os turistas se sujeitaram na fronteira do Guadiana neste último fim-de-semana, nunca mais cá punha os pés. Porquê? Porque onde vou gosto de ser bem tratado. É um critério de qualquer ser humano. O que fizeram às pessoas não foi isso, bem pelo contrário.

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