A escumalha
Eu tenho respeito por todos os movimentos da cidadania,
mesmo aqueles com que posso não estar de acordo. Tenho igual respeito por
aqueles que decidem fazer greve, sejam quais forem as suas motivações e muitos
têm-nas e são totalmente legítimas. Eu nunca fiz greve, mas também não posso
garantir que um dia não farei. É uma questão de opção. Se um dia fizer, tenho a
certeza que não será para apedrejar quem quer que seja.
No meio de tudo isto, não consigo ter respeito e apenas me
sobra o repúdio, por aqueles que a pretexto de uma situação de contestação
promovem a violência e a desordem, a título gratuito e sem qualquer contenção.
Reportando ao caso concreto da última manifestação da CGTP,
facilmente se percebeu que em frente ao Palácio de São Bento existiam várias
realidades. Estavam lá as pessoas que estão preocupadas com a situação e acham
que é através de manifestações e gritaria que se resolvem os problemas de um país
falido deixado à beira da bancarrota, mas misturados com elas estavam bandos de
marginais, gente que vive e convive com a provocação e a desordem e não desejam
outra coisa que não seja a implosão da democracia, da liberdade e da segurança
dos cidadãos.
Para além destes estavam também aqueles que têm como missão
defender a ordem pública, ou seja as autoridades policiais.
Em 2004, era Sarkozy ministro do Interior do governo francês
e vivia-se em Paris momentos de grande agitação e violência, principalmente na
zona dos subúrbios. Grupos de jovens mais ou menos organizados semeavam o pânico,
agrediam polícias e bombeiros, lançavam fogo a automóveis, lojas e caixotes do
lixo, entre outras patifarias. Faziam-no a pretexto ou a reboque da contestação
às condições de vida que se estavam a degradar progressivamente. Sarkozy na
altura identificou esta gente com a palavra «recaille», em português:
escumalha.
Como é óbvio a dita não é exclusiva de França nem de outro
país qualquer. Nós também temos alguma, mas a nossa parece estar bem defendida
e salvaguardada.
Hoje li nas notícias e na Internet relatos de gente que
esteve na manifestação, com posições que são no mínimo curiosas. Condenam o
apedrejamento que foi feito à polícia, mas ao mesmo tempo justificam-no e
consentem-no. Estou a falar de pessoas com motivações políticas e partidárias
de esquerda. Extrema-esquerda, por sinal. Mas não tinha ainda ouvido tudo. Hoje
ouvi o resto. Há um movimento intitulado de Precários Inflexíveis que só de
facto inflexíveis são em relação à mais absoluta e completa estupidez.
Questionado várias vezes um dos seus representantes por um jornalista da TSF,
sobre a sua posição em relação à escumalha que atirou pedras à polícia, não foi
capaz em um só segundo de manifestar reprovação, bem pelo contrário. Nem a CGTP
foi capaz de ir tão longe.
Eu não sei se estas pessoas têm a noção exacta da
legitimidade das suas convicções, mas quando passam a mão pelo pêlo de tipos
que a poucos metros da polícia jogam pedras e objectos em chamas para causar
dano, não é apenas às forças de autoridade que estão a agredir, é a todo um
povo que não abdica de viver em Liberdade e Democracia.
Quem passa a vida com os valores do 25 de Abril na boca e os
usa para tudo e mais alguma coisa, devia saber que esta gente não tem nada a
ver com um conceito de revolução que visa devolver direitos e garantias à
população. As motivações desta canalha são a implosão do Estado de Direito, o
alastrar de um clima de anarquia onde quem não se consegue defender, acaba
agredido ou pior do que isso. Quem joga uma pedra de calçada a uma pessoa, tem
de ter noção que a pode matar. E quem tem intenção de matar, mesmo sem o
conseguir fazer, deve ir preso porque é criminoso.
Quando os intelectuais de esquerda que temos por cá
branqueiam este conjunto de circunstâncias, outra coisa não fazem que não seja
conferir legitimidade pública a criminosos. Se ontem estivessem na frente da
polícia skin-heads de movimentos da extrema-direita, caía o Carmo e a Trindade.
Mas aquela escumalha mal encarada que esteve ontem na frente da manifestação no
momento em que a polícia carregou tem alguma diferença dos cabeças rapadas? Só
se for em meia dúzia de convicções porque no resto são farinha do mesmo saco.
São escumalha. Não há como os rotular de outra forma. E devem ser presos,
porque são perigosos para a sociedade, para a democracia e para a liberdade de
todos nós que somos cidadãos ordeiros.
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