Esta gente não existe
As pessoas queixam-se regularmente da política e dos políticos mas nunca delas próprias. O caso das condolências presidenciais e tudo o que se seguiu, nomeadamente as reacções dos sectores da opinião pública mais à esquerda e mesmo de extrema-esquerda, mostra que afinal há aqui muita miséria intelectual de sobra, bem como falta de honestidade.
Indignaram-se os mesmos de
sempre, aqueles que pelos vistos passam a vida nas redes sociais e pouco
trabalham, com o facto de o Presidente da República ter publicado uma nota de
condolências pela morte prematura de António Borges, que, para além de seu
amigo e colega de profissão, foi igualmente um ilustre docente e prestigiado
economista que percorreu alguns dos mais importantes cargos em instituições
privadas e públicas, em Portugal e no estrangeiro.
Tinha opiniões próprias, com as
quais se pode concordar ou discordar, mas com certeza ninguém com juízo retira
o mérito do seu percurso profissional e académico de excelência. Corrijo, há
quem o faça, quem o tente retirar, mas esses são os invejosos do costume,
aqueles que não sabem fazer outra coisa que não seja criticar, insultar e
denegrir.
Desta vez e a propósito do
falecimento de um ser humano, pai de família e com certeza amigo de muitos amigos,
juntou-se uma turba de gente que mete ranço só de os ver abrir a boca, a
exorcizar impropérios e insultos nas redes sociais, sem ter em conta o respeito
que é devido pela memória de alguém que faleceu.
Note-se que António Borges não
foi um perigoso ditador nem um facínora, semelhante a alguns que por esse mundo
fora existiram e ainda existem e que são normalmente idolatrados pelos
intelectuais de esquerda. Não recaía sobre si qualquer sombra de crime cometido
contra quem quer que fosse. Foi alguém que estudou, trabalhou e tinha ideias
que podendo merecer a discordância coletiva, eram apenas ideias e pensamentos.
Mas esse é o delito para aqueles que nada respeitam e não sabem viver em
liberdade. É que se existe característica mais ajustada a quem situa o seu
pensamento ideológico na extrema-esquerda, bem como na extrema-direita, é de
facto a dificuldade de conviver com a liberdade dos outros. Só a deles importa.
Não satisfeitos, contrastaram a
iniciativa do Presidente da República em manifestar publicamente o seu pesar, uma vez que aos bombeiros falecidos enviou mensagens privadas, procedimento esse considerado o adequado nestas situações Acontece que esta mesma gente, caso Cavaco Silva
tivesse feito de modo diferente, teria o pretexto prefeito para o
insultar e o acusar de aproveitamento político com a morte de alguém que
combatia um incêndio. Para eles é mesmo assim. Só o facto de ser quem é já os
incomoda.
Na realidade é disso que se
trata, mas neste caso como o reflexo num espelho. Aqueles que acusam são os que
merecem acusação por atitude tão miserável. Aproveitaram-se das mortes de duas pessoas
completamente distintas e com significados diferentes mas ambas dramáticas,
para o mais básico e baixo aproveitamento político. Esta gente não tem sentido
de honestidade nem de respeito. Actuam ao sabor das suas conveniências, movidos
por ódios viscerais em relação aos que não pensam do mesmo modo. Esta gente que
pulula entre a intolerância e a simples ignorância são o reflexo da sociedade
que temos. Não é só a política que está doente, é toda uma sociedade que perdeu
o sentido dos valores da vida e baliza os seus ódios e manifestações públicas
em função da contestação aos que não pensam de igual modo. Esta gente não
existe. Aliás, infelizmente existe.
Pois eu lamento muito a morte de
António Borges, da mesma maneira que lamentei a morte de Miguel Portas e com
igual pesar lamento o desaparecimento dos bombeiros que combatiam o
fogo que alguém ateou. Para mim a vida e a condição humana estão acima de
qualquer outra coisa, sobretudo da política.
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