Faro e Olhão tiveram azar e nós todos também

Quem está confortavelmente sentado no seu local de trabalho a poucos metros ou quilómetros de casa e não tem todos os dias de enfrentar o inferno da avenida 125 ou suportar os custos da Via do Infante não precisa ler este texto.

Aos outros, nos quais me incluo, chamo a atenção para o seguinte:

1 – A cidade de Faro é a capital do distrito e por conseguinte onde se concentram uma série de serviços da administração pública, bem como diversas empresas e recebe todos os dias milhares de pessoas de outros concelhos que se deslocam preferencialmente de carro, uma vez que a realidade dos transportes públicos na região é a que se sabe.

2 – Para entrar em Faro de carro existem sobretudo três entradas: a avenida 125 tanto a poente como a nascente e a nacional 2 (a estrada que rasga em latitude o território português da capital algarvia até Chaves). Esta estrada nacional 2 é também conhecida por acesso à Via do Infante. Certamente o pior acesso de todos os que a A22 tem.

3 – As entradas em Faro, nos dias que correm, sobretudo a do lado nascente (Olhão), estão ao nível do que existe no terceiro mundo.  A do lado poente que aglomera trânsito junto às grandes superfícies Fórum Algarve, Pingo Doce, antigo Faro Shopping, Staples, entre outras está um pouco melhor mas não muito. O troço da nacional 2 até à Via do Infante, em horas de ponta, faz-nos perder todo o tempo que conseguimos ganhar na A22 numa normal deslocação. Ou seja ganha-se num lado e perde-se no outro, sem contar que a cidade de Faro está a 10 quilómetros da Via do Infante.

4 – Para quem vem de Tavira, o “terror” começa na mais de uma dúzia de semáforos, alguns limitadores de velocidade, onde o “pára-arranca” é constante para salvaguardar a segurança das pessoas dentro das localidades. Tem o seu momento mais alto no cruzar da cidade de Olhão e o seu epílogo na entrada de Faro. Repare-se que Olhão é hoje uma espécie de túnel do Marquês a céu aberto onde os níveis de poluição do ar e sonora não devem ter paralelo com outro local do Algarve. Olhão e os olhanenses não mereciam isto…

5 – O troço entre Olhão e Faro envergonha qualquer algarvio que se dê ao respeito. Atualmente o piso está decrépito nalgumas zonas com enormes fissuras e sem a chamada camada de desgaste, o separador central tem ervas daninhas a nascer em toda a sua extensão, por falta de manutenção, e a meio do caminho construíram uma rotunda descentrada com o eixo da via a qual ainda não percebi a sua utilidade, mas o problema é certamente meu.

6 – No último quilómetro antes de entrarmos no perímetro urbano da cidade de Faro o cenário torna-se surreal. Para além dos muitos edifícios outrora comerciais abandonados e em estado lastimável com passeios ou acessos inexistentes ou de terra batida, junta-se o que resta de ruínas de antigos edifícios das quintas rurais, alguns deles muito bonitos mas a caírem aos bocados. Mas a cereja estragada em cima do bolo fora de validade é a obra da variante que ficou por construir e onde agora pontifica um cartaz do PS a exigir a sua conclusão, como se este partido não tivesse nada a ver com as causas da interrupção dos trabalhos e como se a responsabilidade política não fosse também sua. Antes de chegarmos à rotunda que nos dá as boas vindas a Faro, junto às bombas de gasolina do Jumbo, dá-se o afunilamento da estrada e aí vale a pena reparar nas laterais onde encontramos o que resta de antigos muros rurais a caírem com o passar dos anos. Esta é a entrada nascente da capital da região mais conhecida de Portugal e uma das mais conhecidas da Europa. Faro e os farenses não mereciam isto…

7 – Estas situações levam a que entrar em Faro a horas de ponta não seja propriamente um exercício de enorme boa disposição, não só pelo que se espera mas também pelo que se vê e se sente. Bem sei que em Lisboa na Segunda Circular ou no IC19 é pior. Mas estamos a falar de uma cidade de província com pouco mais de 40.000 habitantes e não de outra realidade. Dentro de Faro o trânsito que devia circular por fora porque está apenas de passagem, junta-se ao urbano e aumenta os problemas rodoviários numa cidade que afinal de contas não é assim tão grande que justifique tanto congestionamento.

8 – Obviamente que a situação já não era boa no passado mas agora ficou ainda mais grave. A imposição injusta de pagamento de portagens na Via do Infante fez descer para a avenida 125 ainda mais problemas do que aqueles que já existiam. A situação de bancarrota a que o país chegou, ajudou a piorar o resto.

9 – Circular nestas condições, por entre estaleiros de obras abandonadas onde frequentemente se encontram separadores de plástico brancos e vermelhos, ressequidos pelas milhares de horas ao sol por manifesto desleixo, numa estrada que tem um piso miserável cheio de fissuras e buracos, onde em muitos locais não se pode sequer circular à velocidade regulamentar, faz de nós um povo azarado, jogado à sua sorte e com particular destaque negativo para as pessoas que vivem em Faro e Olhão ou aquelas que trabalham ou circulam por aqueles lados.

10 – É nestas condições de “qualidade de vida” que os algarvios vão participar nas próximas eleições para o parlamento europeu, para eleger um conjunto de figuras venerandas que vão para Bruxelas e Estrasburgo com ordenados principescos, tratar de assuntos importantíssimos para a construção europeia.
Vão-me perdoar o desabafo a que alguns não deixarão de chamar populista ou demagogo, mas o que se assiste no quotidiano do Algarve neste momento não é a construção europeia, é sim a destruição da nossa qualidade de vida. A mim pouco me importa quem tem mais culpa. O que me custa mesmo é ver a desresponsabilização de uns e a incapacidade de outros. Há os que acham que assim está bem, certamente porque não vivem este problema todos os dias.


É que pimenta nos olhos dos outros é refresco.

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