O Pego do Inferno

Visto do ar parece apenas um charco. Mas na verdade trata-se de um dos locais naturais de maior interesse e atracção do concelho de Tavira: o Pego do Inferno.
Poucas foram as vezes que ao passar por aquela zona de bicicleta, não me pediram para parar. Perguntam-me, invariavelmente desorientados com a localização, onde fica o Pego do Inferno. Nos últimos sete anos respondi sempre o mesmo. Indico o caminho, mas aviso que o local não está em condições de ser visitado. Quando me perguntam o porquê, justifico com o incêndio de 2012 que começou na freguesia de Cachopo a 40 quilómetros de distância e só parou nas encostas da Asseca.
Nunca adiantei outra razão. Mas ela existe e com o passar do tempo, sem que aconteça coisa alguma, não pode continuar omitida. O Pego do Inferno está como está pelo efeito do fogo, mas também por ter sido abandonado durante sete longos anos. Ninguém lhe jogou a mão. Não houve manutenção suficiente antes do incêndio nem recuperação após a sua passagem.
Não é bonito dizer aos de fora que um dos mais bonitos cantos da nossa “casa” está abandonado. Também é verdade que os de fora contribuíram bastante para a progressiva degradação de todas as estruturas de acessos, passadiços e mobiliário que foram construídas e instaladas por iniciativa da Câmara Municipal há quase 20 anos atrás. Das madeiras dos passadiços e escadas fizeram lenha para acender fogueiras, entre outras tropelias.
Comportamento miserável o do ser humano que não respeita o espaço público e dedica-se a estragar o que é de todos. Mas se quem pode fazer alguma coisa nada faz, com que autoridade podemos reclamar do comportamento dos forasteiros? Se não há zelo em proteger, manter e preservar, como pode haver autoridade moral para repreender, sem actuar?
Em consequência da seca que assola o Algarve, o Pego do Inferno tem pouca água. Perdeu o brilho e faz-nos perder o muito orgulho com que sempre falámos dele. Se contra a falta de chuva só nos resta lamentar e esperar que não tarde a chegar, já o resto é suficiente para nos fazer corar de vergonha.
Talvez hoje, mais do que noutras alturas, aquele pego faça jus ao seu nome: é mesmo um Inferno cravado na nossa consciência.

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