Meia hora e três dias

A meia hora a mais de trabalho no sector privado e a redução dos dias de férias são duas medidas ridículas que não vão resolver coisa nenhuma, a não ser reduzir ainda mais o valor horário pago aos trabalhadores.
Nenhum problema de produtividade vai ser resolvido mas admito que muitos patrões vão ficar mais confortáveis.
Na verdade no sector privado são poucos os que trabalham apenas as horas a que estão obrigados. A maioria trabalha muitas mais e não recebe por isso. É assim em quase todo o lado. Os horários só são cumpridos na entrada e quase nunca na saída. Ao contrário do que acontece na generalidade da função pública em que o horário da saída, salvo as devidas excepções, é sinónimo do fim da jornada de trabalho, nas empresas privadas isso não se verifica.
É bem verdade que o sector privado não está acima da lei e que a Inspecção de Trabalho tem meios legais para actuar. Mas só por pura ingenuidade se pode pensar que é possível controlar as horas extraordinárias não pagas aos trabalhadores que ficam muito depois do horário de saída sem receber um cêntimo.
Como tal, estas medidas vão servir sobretudo para aumentar o odioso da questão e acicatar os ânimos de muita gente em relação ao governo. Em teoria o aumento do número de horas de trabalho ou mesmo de dias, significa um ganho de produtividade, mas não é líquido que isso aconteça e na maior parte dos casos se calhar não vai mesmo acontecer.
Se a questão central é de facto aumentar o nível produtivo da economia e se isso depende em boa parte do esforço dos trabalhadores, não me parece que esta política de apanhar moscas com vinagre seja de facto boa. Os bons profissionais são incentivados a trabalhar porque lhes melhoram as condições de trabalhos, reconhecem-lhes o mérito naquilo que fazem e os premeiam. Se lhe for dito que para trabalharem mais e melhor vão diminuir aquilo que entretanto adquiriram, julgo que a reacção vai ser contrária.
Por outro lado não entendo bem esta fobia em relação às relações laborais, numa altura em que o desemprego não pára de aumentar. É que está à vista de todos que há uma tentativa de facilitar e tornar mais barato o despedimento, significando isso um aumento da taxa de desemprego. Não será um erro a pretexto de um horizonte de produtividade que poucos conseguem definir como e quando se chega a ele, banalizar o despedimento e aumentar o número de pessoas a receber o subsídio de desemprego? Ou também estão a pensar em cortar esse tipo de assistência social? É que se for assim, a rua é mesmo a única alternativa e quando digo a rua é o roubo, a criminalidade, o desacato e o salve-se quem puder. Ajuda-se alguns patrões mas destrói-se uma boa parte da economia e incendeia-se a paz social que tanta falta nos faz.

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