Intervenção de final de mandato
Sr. Presidente
Sras. e Srs. Vereadores
Esta é a última reunião de um
órgão municipal em que participo depois de quase 20 anos em funções
autárquicas. Praticamente metade da minha vida foi partilhada com o desemprenho
de cargos públicos na Câmara Municipal de Tavira, o que me leva nesta
circunstâncias a deixar aqui uma palavra de satisfação e de dever cumprido.
Ao longo destes anos fui eleito e
nomeado para cargos que me proporcionaram conhecer, intervir, votar e decidir
sobre as mais diversas matérias de relevo para o nosso concelho.
Fiz desta minha participação um ato
de cidadania de quem não fica apenas no lado de fora a comentar e a criticar,
mas vem para a vida autárquica dar o melhor de si. Por isso é com orgulho que
me refiro a estes quase 20 anos onde muita coisa aconteceu na nossa terra e
manifesto a satisfação de hoje termos um concelho melhor do que aquele que
tínhamos há duas décadas atrás.
Convivi de perto com a realidade
de muitos tavirenses, nomeadamente daqueles que por razões diversas se cruzaram
comigo nas funções de membro da Assembleia Municipal, Adjunto do Presidente ou
Vereador com e sem pelouros. Acho que conheço bem Tavira e os tavirenses.
Reconheço a cada esquina e em cada lugar deste município, pessoas, histórias,
momentos ou simples circunstâncias que guardo e guardarei na memória.
Não deixo estas funções
ressentido com coisa alguma. Não tenho a presunção de pensar que tudo o que fiz
foi bem feito. Porém, se não fiz melhor foi porque não sabia ou não estava ao
meu alcance. Vivi cada momento com a intensidade de quem vê na vida autárquica
uma forma de servir a comunidade e os cidadãos e não de se servir a si próprio.
Cometi erros como todos cometem e acertei em decisões como todos acertam.
Ser autarca é muito diferente de
outras funções políticas. Eu diria mesmo que é das mais exigentes uma vez que é
de grande proximidade com as pessoas e os seus problemas. E pese embora todo o
anátema que existe sobre os autarcas do nosso país onde o todo é confundido com
a parte, a verdade é que está no Poder Local a genuinidade do serviço à causa
pública e a exigência permanente da prestação de contas. Um autarca de um
município como o de Tavira não tem como se esconder dos problemas da sua terra
porque eles cruzam-se consigo a todo o momento. É impossível ser-se autarca
apenas de gabinete. É na rua e na vivência diária dos problemas que está
concentrada a ação política de um autarca. Porém é mais fácil publicitar o
demérito daqueles que usam estes cargos para se promoverem ou enriquecerem
ilicitamente do que ressalvar o mérito daqueles que se entregam às causas de
toda uma sociedade em prejuízo da sua vida particular ou até mesmo familiar.
Ser autarca é estar disponível a
cada instante. É dar a cara. É responder com prontidão e bom senso às
solicitações dos munícipes. É saber dizer não ou sim em função daquilo que é o
melhor para a causa pública. É respeitar e atender aqueles que esperam de nós
soluções aos seus problemas. É ser capaz de estar presente e não fazer apenas
figura de corpo presente. É estar na rua sem ter medo de enfrentar as pessoas e
passar em todo o lado e não apenas onde lhe convém ou ficar fechado no conforto
dos gabinetes. É ser pontual, assíduo, abnegado e transparente nos seus atos e
na sua vida pública. É ser sério, competente e rigoroso. É não trazer para
dentro das autarquias as conveniências partidárias, mas sim olhar para todos da
mesma forma. É em suma, ser merecedor da confiança e do reconhecimento dos
munícipes.
Quero também deixar neste momento
palavras de profunda gratidão aos funcionários municipais que direta ou
indiretamente comigo colaboraram. Esta casa é uma grande casa. Tem uma
esmagadora maioria de bons funcionários públicos que todos os dias dão o melhor
de si em benefício da comunidade. Aqui fiz bons amigos para a vida e hoje
cruzo-me com todos eles de cabeça erguida e sem qualquer reserva. A todos os
que cá ficam deixo uma palavra de solidariedade numa época tão difícil para
eles, transformados que foram num problema quando na verdade fazem parte da
solução.
Por fim uma última palavra a
todos os colegas autarcas com quem convivi e trabalhei nestes quase 20 anos.
Não levo mágoas de ninguém. Não tenho por princípio nem como estilo de vida
guardar sentimentos de ódio ou de rancor pelas pessoas. Sei que existem
momentos na vida que nos separam e outros que nos unem. Independente da cor
partidária, da maneira de pensar ou de agir, acredito na boa vontade das
mulheres e dos homens que são eleitos para desempenhar funções autárquicas e
dão o melhor de si pela causa pública. Aos que ficam e também aos que vão
chegar, deixo uma palavra de estímulo e de boa sorte. Que sejam merecedores da
confiança depositada pelo eleitorado e saibam honrar os compromissos e a
palavra dada. Que sejam pelo menos tão felizes como eu fui ao longo destes
quase 20 anos de vida autárquica e que desempenhem os cargos para que foram
eleitos com alegria, disponibilidade e responsabilidade.
Os portugueses estão cansados de
promessas por cumprir e de inverdades ditas em períodos quentes de campanha
eleitoral. É preciso virar a página e fazer diferente. Quem honra um compromisso,
ganha o respeito dos eleitores. E é esse o segredo do sucesso daqueles que
fazem a diferença para melhor e ficam para a História como bons exemplos.
Por vontade própria e de
consciência tranquila me despeço, até que a minha disponibilidade e a vontade
das pessoas se volte a reunir e me permita regressar. Não sou capaz de dizer
nunca, sobretudo quando está em causa Tavira.
Sempre disponível para a minha
terra que tanto amo e com um imenso orgulho de ser tavirense.
Viva Tavira.
Fernando Viegas
Tavira, 20 de Setembro de 2013
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