Os tavirenses merecem saber a verdade
A
comunicação política é uma ciência que se estuda e se desenvolve. Por isso há
pessoas que escrevem e dizem coisas acertadas e outras que fazem exatamente o
contrário. Nas eleições autárquicas a comunicação política toca nos extremos.
Há campanhas de comunicação muito boas e eficazes e outras que roçam a anedota
e estão bem patentes nas redes sociais, com exemplos verdadeiramente
hilariantes.
Em
Tavira o PS tem uma campanha de comunicação política que está sobretudo centrada
em cartazes com um fundo de tonalidades azul e verde, fugindo aos matizes que o PS normalmente usa, o vermelho ou o rosa. É uma forma de não “agredir” e até
captar o eleitorado do PSD, algum dele órfão nestas eleições autárquicas, por
razões que são conhecidas. As frases escritas nos cartazes transmitem a
mensagem que a candidatura quer passar para o eleitorado. E aqui entra o meu
reparo, que neste caso concreto é no sentido de mostrar que muito do que se
escreve tem uma explicação por trás a qual não pode deixar de ser decifrada.
Uma
das frases chave da candidatura do PS é: Reduzimos a Dívida. Fizemos Obras.
O
que o PS pretende dizer é um chavão, um sound-byte o qual não sendo devidamente
explicado fica-se com uma ideia diferente da realidade.
Vamos
por partes. No que respeita à dívida o PS fala publicamente de um valor global
de 29 milhões de euros dando a ideia que o anterior executivo deixou em facturação
vencida esse valor. Isto não corresponde à verdade e o PS sabe disso. Mas
dizê-lo assim dá um ar de desleixo, pouca responsabilidade e má gestão por quem
contraiu a dívida e o contrário em relação a quem está a reduzi-la.
O PS
mete no mesmo saco duas coisas distintas: os financiamentos bancários, alguns
deles ainda herdados do tempo em que os socialistas estavam na Câmara (antes de
1998), uma vez que têm maturidades de 20 anos, juntamente com a
faturação corrente, alguma dela vencida porque em 2009 já não se viviam tempos
de grande prosperidade conforme é sabido. Só para se ter uma ideia, o
financiamento para a construção da ponte dos Descobrimentos (junto ao Mercado
Municipal) passou de uns mandatos para outros. E ainda bem que foi assim, é
sinal que a obra foi feita. As piscinas municipais só foram construídas porque
havia capacidade de contrair financiamento bancário, tendo em conta que não
havia na altura um centavo (ainda no tempo dos escudos) de verba comprometida
para a o lançamento da empreitada. O próprio pavilhão municipal também foi
construído com recurso a empréstimo o qual terminou de se pagar nos mandatos do
PSD.
O
mais grave no PS e na sua comunicação política, escrita e falada, é não referir
que essa dívida a que tão dolosamente se refere serviu para a construção de
muitas infraestruturas e equipamentos do concelho, nomeadamente habitação
social. Sim, muitas das casas onde habitam pessoas que hoje se espantam com o
valor da dívida que o PS anuncia, foram construídas com financiamento bancário.
De outra maneira estariam ainda a viver nas barracas que existiam em Tavira em
1997, antes do PSD chegar à Câmara ou nas habitações em condições infra-humanas
do Bairro Jara.
Mais
do que isso. O parque industrial de Santa Margarida, gerido pela EMPET, onde
estão agora alguns camaradas e amigos do presidente da Câmara (não é uma
crítica é uma constatação) foi pago com um financiamento bancário ao qual Jorge
Botelho já se referiu por diversas vezes, indevidamente, como sendo um calote.
Na verdade não é. É apenas um financiamento bancário como outro qualquer,
devidamente contratado, e sem o qual não estaria o parque industrial
infraestruturado e em condições de ser comercializado. Ou seja, esta é uma
dívida que à partida será paga com a receita da comercialização. Não sendo
assim, não estaria feito. Aliás, creio até que este financiamento foi alvo de
reestruturação por parte deste executivo o que provoca a médio longo prazo uma
oneração dos juros a pagar ao banco.
É
justo dizer-se que isto são dívidas herdadas?
E
depois há com certeza a faturação vencida que é comum em todas as autarquias
deste país e que no caso em apreço era o menos relevante. Em Faro parece que era
bem superior quando mudou o mandato em Outubro de 2009 e o que não faltam no
Algarve são outras realidades bem piores. Deixo até um desafio: digam quanto
era a dívida, expurgados os valores dos financiamentos bancários.
O
próprio Programa de Apoio à Economia Local (PAEL) lançado por este governo e ao
qual este executivo municipal se candidatou para poder liquidar facturação
vencida, é também ele um financiamento em condições favoráveis mas que terá de
ser pago ao longo dos anos. Se não o tivesse feito levaria mais tempo para
honrar os seus compromissos.
Ainda
assim, o actual executivo não fechou as suas portas nem declarou nenhuma
situação de insolvência ou de ingovernabilidade, tendo até nos primeiros tempos
deste mandato pago corridas de automóveis no concelho, espetáculos de música
sem bilheteira, fogo-de-artifício, bem como as obras que o anterior executivo
do PSD lhe deixou de mão beijada para executar. Atenção que mais uma vez isto
não é uma crítica, apenas uma constatação. O dinheiro que gastou nas obras foi
bem gasto, excepto aquele que serviu para adulterar a Praça da República. É a
minha opinião pessoal.
Para
terminar, saliento duas realidades que podem ser comprovadas. No mandato
autárquico entre 2005 e 2009 a Câmara de Tavira chegou a ter uma situação de facturação
completamente controlada, ou seja tinha dinheiro em tesouraria para fazer face
aos pagamentos e só não pagou as facturas cujos fornecedores não se encontravam
em situação regularizada com o Estado e por isso estavam impedidos de receber.
Mais do que isso, nesse mesmo período a Câmara Municipal de Tavira foi
reconhecida pela Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas da altura, como sendo
uma das autarquias com melhor gestão financeira do país. Tudo isto deve ter
sido por algumas razões objetivas e meritórias. Acho eu…
Das
obras em concreto já nada há a acrescentar. Os tavirenses são inteligentes, têm
olhos na cara e com certeza boa memória. Saberão fazer as devidas comparações.
Estas
coisas não vêm nos cartazes do PS, mas devem estar no discurso de quem disputa
as eleições. Não sei se os partidos da oposição o estão a fazer. Não sei até se
conhecem esta realidade. Eu conheço-a. Porque estive na vida autárquica os anos
suficientes para conseguir decifrar aquilo que o PS anda a dizer aos eleitores.
E na minha opinião, os tavirenses merecem saber a verdade.
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