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O Pego do Inferno

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Visto do ar parece apenas um charco. Mas na verdade trata-se de um dos locais naturais de maior interesse e atracção do concelho de Tavira: o Pego do Inferno. Poucas foram as vezes que ao passar por aquela zona de bicicleta, não me pediram para parar. Perguntam-me, invariavelmente desorientados com a localização, onde fica o Pego do Inferno. Nos últimos sete anos respondi sempre o mesmo. Indico o caminho, mas aviso que o local não está em condições de ser vis itado. Quando me perguntam o porquê, justifico com o incêndio de 2012 que começou na freguesia de Cachopo a 40 quilómetros de distância e só parou nas encostas da Asseca. Nunca adiantei outra razão. Mas ela existe e com o passar do tempo, sem que aconteça coisa alguma, não pode continuar omitida. O Pego do Inferno está como está pelo efeito do fogo, mas também por ter sido abandonado durante sete longos anos. Ninguém lhe jogou a mão. Não houve manutenção suficiente antes do incêndio nem recuperação após a sua passagem. N

À espera de nada

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Sentado no muro que separa a margem do rio Sena, um sem abrigo olha para o fundo do horizonte, até onde a vista alcança, à espera de vislumbrar um resto de esperança ou de simplesmente nada. A França da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, será só para os bem-aventurados da vida ou para os que sabem aproveitar as oportunidades. Não faço ideia qual é a sua realidade. Não será apenas culpa alheia. Mas também quem somos nós para fazer esse julgamento? Ele está ali sentado e carrega nas costas e nos braços o que lhe restou da vida ou o que esta lhe proporcionou. Certamente um pedaço de cobertor para se cobrir nas noites frias de Paris. O pouco calor que lhe chega à alma será o conforto mínimo para o manter vivo e acordar no dia seguinte. Não se percebe o que há por trás de um olhar quando se olha pela primeira vez. Também não fazem falta justificações. A vida está longe de ser justa para todos e mesmo para aqueles que não tiveram a oportunidade de contornar dificuldades. Ele n

A ESCOLA ABANDONADA DE CRIANDE E MORGADE

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Criande, junto a Morgade, é uma aldeia barrosã do concelho de Montalegre, “banhada” pelas águas do Alto Rabagão, uma enorme massa de água situada acima dos 800 metros de altitude. Parte do território desta aldeia foi invadido pela construção da barragem, o qual apenas conhece a luz do dia nas alturas em que as cotas baixas da bacia hidrográfica assim o permitem. Foi o caso quando visitei Criande (Dezembro de 2017, altura em que Portugal estava em período de seca extrema). Atravessei de bicicleta um trilho que normalmente está submerso e dei de frente com um dos principais símbolos da desertificação do interior: a escola primária fechada e condenada ao abandono. Muito diferente das escolas brancas do Planos dos Centenários a que estou habituado, esta tem um aspecto austero, consequência directa das suas paredes escuras construídas com a pedra da região, o granito. Com a porta escancarada, obviamente, entrei num dos seus edifícios (eram dois) e lá dentro estava o

HÁ UM PAÍS REAL DO QUAL NÃO SE FALA NOS CORREDORES DO PODER. ESSE PAÍS REAL CHAMA-SE: INTERIOR DE PORTUGAL

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A desertificação tem imagens de referência. A principal, na minha opinião, é a escola primária abandonada. Seja no Norte ou no Sul e no Centro não é diferente, a razão é comum: deixou de haver crianças em número suficiente para manter a escola aberta. A solução é juntar as que restam num transporte com última paragem na sede do concelho onde se reúnem com meninas e meni nos de outras proveniências. Na minúscula aldeia flaviense de Fernandinho, pertencente à União das Freguesias de Loivos e Póvoa de Agrações, a escola primária do Plano dos Centenários fechou há muito tempo, a julgar pelo estado em que se encontra. Sobrou pouca coisa. O cabide, o estrado, o quadro, a salamandra para aquecer a sala nas geladas manhãs de inverno transmontano a quase mil metros de altitude e a secretária da professora com a gaveta aberta sem nada lá dentro. A porta está aberta e os vidros partidos. Pouco mais resta para além das memórias.  Poucas são as esperanças em relação ao processo de deserti

VILARINHO DE NEGRÕES

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Vilarinho de Negrões podia ser o cenário de um filme. Quando se olha para esta aldeia do Barroso com o Larouco ao fundo e as águas do Alto Rabagão a fazerem dela uma espécie de península, respira-se fundo e espera-se que os sentidos absorvam todas as sensações. É uma espécie de bênção divina. O Criador começou a obra e o Homem fez os acabamentos. Nas suas ruas estreitas o tempo parece que parou. É o silêncio apenas interrompido por uma conversa que vem de dentro de uma casa, o som do motor do trator que passa, o latido de um cão que não gosta de estranhos ou o chocalhar do gado a caminho do lameiro ou a regressar à loja. Tudo o resto é a música silenciosa da natureza no seu estado mais puro. Na sua parte mais central, depois de cruzar a fachada da capela, um lavadouro cheio de água cristalina recebe o fluxo através de uma torneira cravada na boca de uma face estilizada no granito. Ao seu redor estão casas, umas mais recentes misturadas com outras bem antigas e um

O meu Caminho de Santiago - Última etapa: Lalin - Santiago de Compostela

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 A terceira e derradeira etapa do meu Caminho começou em Lalin. Na verdade o traçado oficial não passa naquela cidade mas sim um pouco mais a sul, perto da Estrada N-525. Por questões de logística optei por finalizar a etapa do dia anterior em Lalin em vez de fazer mais 15 quilómetros até Silleda. Foi uma boa opção. A distância até Santiago de Compostela eram aproximadamente 57 quilómetros com 1100 metros de acumulado de subida. Ou seja, menos exigente que as etapas anteriores mas com uma dificuldade que contarei mais à frente. O caminho entre Lalin e Silleda é marcado pela travessia da ponte de Taboada sobre o rio Deza, datada do século X. Nas suas imediações o caminho é feito de empedrado que exige grande perícia para quem segue em cima de uma bicicleta. Junto à ponte encontrei um grupo de escuteiros espanhóis muito animados e acompanhados por um frade que me deram um muito sonoro «Buen Camino». Uns poucos quilómetros mais à frente parei junto à igreja deSantiago de Ta

O meu Caminho de Santiago - Segunda etapa: Ourense - Lalín

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Quando acordei na manhã do dia da segunda etapa a Caminho de Santiago estava com a sensação de ter sido atropelado por uma manada de touros nas ruas de Pamplona. Não passei bem a noite e percebi que o dia não ia ser fácil por falta de descanso. Porque a etapa era mais curta que a anterior parti para o Caminho mais tarde. Eram quase 10 horas da manhã. Obviamente que a esta hora já devia estar com quilómetros nas pernas, até porque ao longo do dia cheguei à conclusão que apesar de mais curta que a anterior etapa, esta era claramente a mais exigente do ponto de vista físico e anímico. Foram 65 quilómetros bem mais duros que os 100 do dia anterior. Para complicar um pouco mais a situação tomei um pequeno-almoço impróprio para quem vai pedalar. Poucos hidratos de carbono. Porquê? Porque não estava bem. Simplesmente. Coisas do organismo. Tem dias. Fiz-me ao Caminho tendo como referência a monumental Ponte Vella de Ourense a qual permitiu-me atravessar o rio Minho. Seguramente