O Portas manda e o PSD obedece


Eu sou contra a coligação do PSD com o CDS, nomeadamente com as pessoas que actualmente lideram os centristas. Porquê? Por várias razões mas a maior de todas é porque estou dotado, até ver, de memória e não me esqueço com ligeireza do passado.
Basicamente acho que Portas não é confiança e numa coligação o factor confiança é primordial.
Podem até dizer que no essencial as coisas correm bem. Só correm quando fazem as vontades ao Portas. Quando não é assim a coisa já não corre tão bem.
Vem nos livros de ciência política, que uma coligação que não nasce antes das eleições e é uma consequência do resultado das mesmas, pode deixar o partido maioritário refém do mais pequeno. E essencialmente é assim que me parece acontecer com o PSD e o CDS, algumas vezes.
A possibilidade de se alterar a lei eleitoral autárquica veio mais uma vez provar isso. O PSD não conseguiu chegar a acordo com o CDS, uma vez que segundo os centristas a alteração do figurino eleitoral autárquico lhe retiraria peso no Poder Local. É natural que sim. O CDS não é um partido com alicerces locais. Aliás nalgumas zonas do país nem tem concelhias organizadas. Vive eleitoralmente do seu líder, que pese embora as minhas mais genuínas e fundadas reticências sobre o dito cujo, reconheço que entra bem no eleitorado que navega quase sempre no mar do descontentamento de direita, quando o CDS está na oposição. Portas é tribuno. Foi jornalista. Sabe comunicar. E para além disso tudo é um fiteiro muito grande. Tinha certamente muito sucesso como actor em qualquer telenovela da TVI. Como a política hoje é imagem e espectáculo, Portas chega bem às pessoas. Quando não é a sua imagem que está a ser avaliada mas sim a dos dirigentes locais do CDS, o resultado está à vista: apenas têm uma câmara municipal em todo o país, neste caso Ponte de Lima.
Como tal o CDS quase desapareceria do cenário autárquico com a alteração da lei, uma vez que os executivos municipais passariam a ser mono colores, ou seja de um só partido.
Neste assunto, estou até em crer que seria mais fácil o PSD chegar a acordo com o PS.
Este assunto cai na opinião pública imediatamente a seguir à questão da privatização ou concessão da RTP, em relação à qual o CDS também parece ter uma opinião distinta da do PSD. E outros casos se seguirão.
Assim a posição do PSD face ao seu parceiro tem tendência para se manter condicionada, embora tenha sido no partido laranja que tenha recaído a maioria dos votos dos portugueses nas últimas eleições legislativas.
Como a coligação só nasceu nos dias seguintes ao sufrágio, o CDS ganhou dimensão e importância porque sentiu que fazia falta para afinar o xadrez governativo e para que fosse encontrada uma solução de maior estabilidade.
No PSD há muita gente que pensa do mesmo modo que eu em relação a este assunto. Ou se preferirem, eu penso igual a eles. Muitos acham o Portas um estupor mas aturam-no porque isso é importante para a saúde da coligação, mesmo que nalgumas circunstâncias tenha de ficar numa situação envergonhada de comer e calar contra a sua própria vontade.
Sendo assim, não vai haver uma nova Lei Eleitoral Autárquica em Portugal porque o Portas não quer, na medida em que ficava ainda mais reduzido à pequena dimensão do CDS a nível local. Acreditem, há concelhos onde o CDS é dirigido sempre pela mesma pessoa, porque não há outra que queira. Se isto é uma situação saudável, então afinal a democracia é mais simples do que parece. Basta um para montar a “festa”.

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