O Comandante e o rato

A 15 de Janeiro de 2009, um Airbus 320 descolou do aeroporto de La Guardia em Nova Iorque, com destino a Charlotte, uma outra cidade norte-americana. Aos seus comandos ia um ex-piloto da força área daquele país, Chesley Burnett Sullenberger, Sully para os amigos.
Nada fazia prever que naquela manhã de frio, o 320 da US Ariways tivesse um inesperado encontro com um bando de gansos, pouco tempo depois de levantar voo. Quis o acaso que os pobres pássaros fossem aspirados pelos potentes reactores do Airbus, o que provocaram a imediata paragem de ambos.
Porque estas coisas são treinadas em simuladores até à exaustão, a tripulação liderada pelo Comandante Sully iniciou os procedimentos de aterragem de emergência, uma vez que o avião tinha perdido a sua fonte de força para voar. Para quem não conhece, o aeroporto de La Guardia fica numa zona com grande densidade urbana, encostado a Flushing Bay. Reportado o acontecido e visto que não era possível levar o avião em segurança até uma das pistas de aviação que existem na zona, o Comandante Sully decidiu amarar o Airbus em pleno rio Hudson, de modo a evitar uma catástrofe maior e por ser o local onde havia mais probabilidade de salvamento para os passageiros. E assim foi. Numa verdadeira demonstração de perícia e sangue-frio, o avião amarou e foi possível resgatar todos os passageiros e tripulação, sem um arranhão sequer. Apenas não foi possível evitar algumas constipações uma vez que foi necessário molhar os pés nas geladas águas do Hudson.
O Comandante Sully, como mandam as regras e o sentido da responsabilidade, foi o último a abandonar o avião e só o fez depois de se certificar que não havia qualquer passageiro esquecido a bordo, correndo naturalmente o risco de se afundar juntamente com a aeronave nas águas do rio. Tudo terminou em bem e Sully é hoje um herói nacional de tal dimensão que chegou mesmo a ser falado para concorrer às eleições para presidente dos Estados Unidos da América.
Compare-se agora esta atitude com aquela que tem sido relatada pela comunicação social em relação ao comandante italiano do navio que afundou esta semana.
O role de disparates e irresponsabilidades parece não ter fim. Desviou-se da rota sem autorização por um capricho pessoal, brincou com a vida dos passageiros - alguns acabaram mesmo por falecer - e só não foi pior devido à proximidade de terra. Depois abandonou o barco deixando para trás a coordenação do resgate e quando lhe foi dada a ordem para regressar ao navio, desrespeitou a mesma e apanhou um táxi para um hotel onde, segundo se sabe agora, foi detido pelas autoridades.
Ou seja, ser Comandante com letra maiúscula não é apenas ter determinada certificação. É uma questão de carácter, de honradez, de coragem e de competência profissional.
Por isto Sully ficou na História dos Estados Unidos da América como símbolo de bravura e determinação e o Popey italiano não só vai passar umas férias a um estabelecimento prisional como também nunca mais poderá colocar as mãos em cima de um leme.
Sully foi um verdadeiro Comandante. O italiano do Concórdia não passou de um rato, que na primeira aflição abandonou o navio e os seus passageiros, deixando-os à sua sorte.

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