Oposição Segura

Estar na oposição e não a fazer, não tem sentido. E fazer oposição é ter alguma coisa para dizer às pessoas, em alternativa ao que quem exerce o Poder diz e faz. O problema de Seguro no actual PS é este mesmo: para dizer alguma coisa diferente, tem de contradizer o que o seu partido disse e fez no passado. E isso não é fácil.
O PS tem um compromisso assinado com a troika. Não o assinou contra a sua vontade. Fê-lo porque não tinha alternativa ou neste caso porque a alternativa era não ter, dentro de pouco tempo, nem um cêntimo para pagar os vencimentos dos polícias, dos professores, dos médicos entre muitos outros funcionários públicos, bem como todo um conjunto de responsabilidades que estão inerentes ao funcionamento do Estado.
Sócrates no meio das inverdades que nos disse, teve uma que foi mais hilariante que o aspecto das casas que projectou na Beira Alta. Que entre ele e o apoio externo do FMI, haviam nove milhões de portugueses a separar, os quais deixaram de ter relevância de uma hora para a outra quando Teixeira dos Santos lhe disse que já não havia dinheiro nos cofres para mandar cantar um cego, passo a expressão.
O acordo então assinado que mereceu a concordância do PS, PSD e CDS, comprometeu estes três partidos, independentemente das suas lideranças. Não se tratou de um acordo qualquer de circunstância, mas sim de uma tábua de salvação que obriga Portugal e os portugueses a um conjunto de medidas de austeridade que nos sufocam no dia-a-dia mas que são a consequência prática do estado a que o Estado chegou.
Quando Seguro, em boa hora para o PSD, ganhou as eleições para secretário-geral do PS, por mais do que uma vez afirmou que tinha consciência do acordo e que o ia respeitar, porque não ia fazer ao seu país o que, segundo ele, a oposição de direita estava a fazer à Grécia. Não foi necessário muito tempo para dar o dito por não dito.
A razão é simples. Seguro sabe que há terreno fértil para a contestação, a qual está neste momento apenas nas mãos do PCP, do Bloco e dos cavaquistas anónimos. Se não a fizer, os portugueses terão cada vez mais dificuldade em distinguir a acção do PS na oposição, o que o deixa numa situação de embaraço. Para o fazer, terá de ser muito imaginativo para conseguir encontrar um caminho diferente daquele que está a ser seguido e pelo meio alguém tratará de lhe perguntar de que serve agora tanta alternativa quando a assinatura de Sócrates está no memorando de entendimento com a troika.
A questão é óbvia. Se o PS estivesse a governar, havia cortes nos salários e nos subsídios dos funcionários públicos, aumento de impostos e portagens nas scuts, retracção no investimento público e todas as outras medidas de austeridade que foram determinadas por este governo. Estar na oposição sem se poder opor a isto, não é fácil.

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