1 de Dezembro - Quem não tem memória não tem futuro

Um dos feriados que o governo pretende suprimir ou comemorar a um domingo quando o calendário ditar a um dia de semana, é o de amanhã: o 1 de Dezembro.
Por muito interessante que seja o discurso da produtividade do país ou a falta dela, aquilo que me ocorre dizer é que quem não tem memória, não tem futuro. Ou seja, se há feriado importante no calendário português o 1 de Dezembro é seguramente um dos principais. E porquê? Porque marca a restauração de Portugal enquanto país independente e autónomo, depois de 60 anos de domínio espanhol.
Alguns abominam esta data porque acham que estaríamos melhor pertencendo a Espanha do que como nação que somos. Talvez. Em Timor-Leste também havia timorenses que achavam melhor serem indonésios.
A verdade é que alguns séculos antes, na célebre Batalha de Aljubarrota que ditou a derrota do exército espanhol e o fim da crise dinástica provocada pela morte de D. Fernando o qual não tinha descendência masculina, muito foi o sangue que se derramou para construir um país chamado Portugal, sem estar dependente das cortes castelhanas. Quem diz Aljubarrota, diz todo um período de conquistas que desenharam a geografia do país que hoje somos, nomeadamente na fase das conquistas aos mouros.
Felizmente em 1640, havia um D. João IV (curiosamente de descendência espanhola) que tinha a noção da necessidade imperiosa de sermos uma nação independente. Na altura houve uma mobilização generalizada nos diversos sectores da sociedade para que Portugal não fosse uma província espanhola, consubstanciada num grupo de nobres revoltosos que invadiram o palácio real, aprisionando Margarida de Sabóia, à data dos factos encarregue do reino e representante dos interesses filipinos e matando um dos maiores traidores da pátria, neste caso Miguel de Vasconcelos. E assim se restaurou Portugal.
Os anos seguintes foram naturalmente de conflitos com os exércitos espanhóis, mas a independência do Estado manteve-se.
Se isto não é importante e não merece um dia feriado, então o 25 de Abril também não faz qualquer sentido ser comemorado no dia em que se deu e o 5 de Outubro a mesma coisa. Porque se um marca o fim da ditadura e a fundação do regime democrático e o outro o início da república que é o sistema que temos até hoje, o 1 de Dezembro marca a restauração de Portugal enquanto nação livre e independente. Sem isso não haveria 5 de Outubro e muito menos 25 de Abril.
O que se pretende fazer agora, confunde-se com a diminuição do gesto de coragem daqueles que no passado ajudaram a fazer de Portugal o país que somos. A pretexto de mais trabalho e mais produtividade, faz-se tábua rasa da memória colectiva de um povo.
Tal como em 1640, Portugal parece estar a perder a cada dia que passa a sua independência, vivendo hoje sob o comando dos mercados, do dinheiro do FMI, das imposições da troika, das orientações de uma União Europeia sem liderança política e da vontade discricionária de Merkel e Sarkozy, que parecem ser nos dias de hoje o D. Filipe IV de Espanha e III de Portugal do século XVII.
Haja memória.

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