O desemprego é uma doença com cura


Nas minhas actuais funções profissionais, tenho sido solicitado a participar em seminários e colóquios que se organizam em torno do tema do empreendedorismo e da criação do próprio emprego.
Na parte que me toca, falo sobre os sistemas de financiamento ao investimento, nomeadamente na vertente da chamada economia social, ou seja o crédito bancário em condições especiais e protocoladas com o Estado para ajudar aqueles que estão desempregados a sair dessa situação.
Estas sessões infelizmente por um lado e felizmente por outro têm sido bastante concorridas. Infelizmente, na medida em que se as pessoas estão lá é porque não têm trabalho. Felizmente, porque apesar dessa circunstância, acreditam que a sua situação pode mudar e não se resignam à condição de desempregados.
Nestas sessões costumo dizer às pessoas que estar desempregado é como estar doente. Refiro igualmente que a doença da qual padecem tem cura, mas é necessário que o “doente” queira curar-se. Sem isso nada feito.
Afastando a circunstância óbvia que nem todos nascem para ser empreendedores e que o problema do desemprego não se resolve transformando aqueles que não têm trabalho em novos empresários, a verdade é que muitas destas pessoas conseguem iniciar uma nova actividade, aproveitando os meios que o Estado e os bancos lhes disponibilizam, juntando a isso muita coragem, determinação e sobretudo vontade de trabalhar.
Nem todos lá chegam? É verdade. São uma minoria? Também. Mas nestas coisas, quando alguém consegue triunfar, o esforço e a vontade justificam-se.
Por esta razão, quando ouvi o primeiro-ministro dizer que o desemprego deve ser olhado também como uma oportunidade e não apenas como um drama irresolúvel, percebi perfeitamente o que queria dizer.
Mas há quem não queira perceber.
Há quem a cada vírgula, vogal ou ponto final do primeiro-ministro, encontre um motivo de reprovação. Há quem ache que é obrigação exclusiva de um governo proporcionar ao país uma solução de pleno emprego de preferência à conta do Estado. Há quem ache que o problema do desemprego desqualificado e também, porque existe, preguiçoso, é da responsabilidade de quem está a governar o país há menos de um ano. Só que não é.
A criação de novos postos de trabalho está dependente do crescimento económico, da criação de riqueza, mas também da capacidade das pessoas reagirem ao clima de dificuldade que se vive neste momento. Não existe uma fórmula mágica para o efeito e a destruição de postos de trabalho acontece com mais frequência e facilidade que o seu contrário, ainda mais numa fase de recessão, à qual não é alheia a situação de desespero financeiro que o país está a viver. Mas o discurso de um governante não pode ser o da resignação.
É certo que Passos Coelho já teve intervenções menos felizes, as quais só por grande reserva mental em ralação a ele podem ser interpretadas como um acto de leviandade. Quando falou de emigração ou da pieguice dos alunos que não querem estudar, talvez não o tenha feito com a clarividência suficiente para se perceber o que queria dizer, mas neste caso do desemprego, só por manifesta resistência ou má vontade não se percebe o objectivo da sua mensagem.
São sobretudo aqueles que acham que a solução nunca depende dos próprios mas sim dos outros, que geralmente se colocam na situação de eternos coitadinhos do sistema e insistem em pensar que a solução tem de lhes ser servida numa bandeja de prata. São os que ficam em casa a mandar currículos pela Internet pensando que isso é o suficiente para conseguir um emprego em vez de um trabalho e no fim lamentam a ausência de resposta, os protagonistas da ondas de reprovação ao discurso do primeiro-ministro, misturados com os políticos no activo que são sempre do contra (PCP e Bloco), mais os responsáveis pela situação a que o país chegou (PS).
Pois fiquem sabendo que já vi muita gente humilde dar a volta por cima. Porquê? Porque em vez de se lamentarem do problema, procuraram uma solução.

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