Alegre não gosta da universidade da JSD

A Universidade de Verão do PSD e da JSD é um dos poucos exercícios de reflexão e formação política que se organiza em Portugal. Mais nenhum partido faz, com este nível de visibilidade, um evento semelhante. Dir-me-ão que há a Festa do Avante. Não é a mesma coisa. Os motivos são diferentes e os conteúdos também. Para a Universidade de Verão da JSD vão jovens que não querem desistir de contribuir par um futuro melhor do seu país, abdicando de festa e copos durante uns dias para reflectirem e aprenderem com quem tem algo para lhes ensinar. Na Festa do Avante, não fossem os muitos e bons concertos e o arraial festivo que se monta no interior da Quinta da Atalaia, dificilmente haveria por lá mais do que os ortodoxos comunistas que ainda acreditam no brilho do sol de Moscovo.
Eu passei os anos suficientes na JSD para saber que não se aprendem apenas coisas boas. As primeiras lições de caciquismo político foram lá que as tive, ao observar sobretudo alguns maus militantes e dirigentes do PSD que usavam a estrutura juvenil para obterem resultados internos. Mas também aprendi coisas boas e interessantes, sobretudo ao nível da reflexão ideológica, do serviço à causa pública e da importância de não olhar para a política com uma visão diabólica, uma vez que ela e os partidos só são maus se as pessoas forem más. E nem todas são.
Tenho por isso o maior apreço por iniciativas como esta da Universidade de Verão, que reúne um grupo de jovens e os coloca a pensar naquilo que é fundamental perceber se um dia quiserem emprestar o seu esforço e a sua criatividade à causa pública e ao exercício da actividade política.
Porem, no dia em que acidentalmente vi uma reportagem sobre o congresso do PS em Braga, enquanto procurava no meu comando do MEO o Canal Benfica, ouvi Manuel Alegre reprovar a participação de Mário Soares na Universidade de Verão da JSD, onde aliás foi muito bem recebido inclusive com slogans que a memória dos tempos perpetuou. Como ele, Alegre, é o maior arauto nacional do exercício da liberdade e da democracia, a dele entenda-se, fiquei animado e divertido ao concluir que o poeta que queria ser Presidente da República, tem da política uma imagem tribal. Ou seja, quem é do PS não pode participar, se for convidado, num evento do PSD, o que não deixa de ser extraordinário. Provavelmente já se esqueceu quando andou a participar como orador em comícios do Bloco de Esquerda, que na altura zurzia bem forte contra o então governo do PS que é curiosamente o seu partido. Dir-me-ão: é diferente porque é de esquerda. Uma ova. É diferente porque é ele, o Alegre. É diferente porque quem se auto reclama autoridade moral para tudo não desce do pedestal e vê com tolerância o que se passa á sua volta. É diferente porque a coerência é um bem escasso em si mesma e nada é mais confortável do que praticar o “faz o que eu digo, não faças o que eu faço”.
Ou seja, Soares fez bem em participar na Universidade de Verão da JSD, porque o seu contributo é válido e tem o que ensinar aos que aspiram a ser políticos. Por outro lado, a atitude de Alegre é má, uma vez que reduz a política a uma guerra tribal onde nada se mistura nem se partilha. Para quem queria ser Presidente da República, o seu grau de tolerância institucional está mais baixo que os túneis do Metro em Lisboa.

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