O peso pesado

As vozes mais avisadas dentro do PSD, aquelas que não estão à espera de nada nem de coisa nenhuma e ainda têm independência de pensamento, já começaram a dizer o óbvio sobre a estratégia do governo em relação ao controlo das contas públicas que se tem concentrado sobretudo no aumento da receita através dos impostos em vez do corte na despesa do Estado.
Naturalmente que aqueles que estão a ver o que lhes calha em sorte na lotaria dos lugares que há por distribuir na órbita do Poder, vão mantendo o discurso que o governo está a fazer um esforço muito grande para o controlo do défice, através de medidas rigorosas e de grande coragem. Eu sinceramente não partilho desta opinião. Quem tem revelado muita coragem é a classe média que vê os impostos sobre os seus rendimentos a aumentar e até agora está pacientemente impávida e serena. Diria mesmo que para estes portugueses há um PEC específico: o Plano de Empobrecimento em Curso.
Acontece que o PSD, ao contrário de outros partidos, tem gente que pensa pela própria cabeça e não finge ou assobia para o ar perante o cenário de opções injustas que estão a ser tomadas, uma vez que não são acompanhadas de outras igualmente necessárias. Recorde-se por exemplo o PS que a poucos semanas da derrota de Sócrates o elegeu para um novo mandato de secretário-geral com mais de 90% dos votos. Eles sabiam o que aí vinha mas não tiveram coragem de meter o dedo na ferida.
Acredito convictamente na boa vontade das pessoas e sobretudo na do primeiro-ministro. Acho mesmo que comparado com o anterior, em todos os domínios mas muito especialmente na seriedade política, já valeu a pena mudar. Mas governar o país não é um concurso de virtudes. É uma missão de honestidade, coragem e justiça.
Diria que o Estado está a ser tratado pelo governo como um doente obeso a quem em vez de obrigar a fazer exercício sob um regime de dieta rigorosa, o manda para tratamentos caros de cirurgia. Fazer ginástica e comer menos, leva mais tempo para emagrecer e custa muito mais ao paciente. Levá-lo à faca e depois aos centros de beleza estética é mais rápido mas não lhe garante que passados uns tempos não esteja novamente obeso, para além de custar muito dinheiro.
Sendo assim, observo que o governo preferiu o caminho mais fácil mas mais perigoso. Aumentou os impostos para fazer subir a receita e ainda não cortou na despesa para baixar o desbarato de recursos financeiros. Preferiu as cirurgias caras, à ginástica barata e à economia no controlo da alimentação.
Assim, o doente agora obeso (Estado) vai com certeza emagrecer artificialmente mas não vai ganhar qualidades e faculdades que podia adquirir com o exercício físico e a dieta alimentar cuidada e rigorosa. Ou seja, as contas públicas vão estabilizar mas as famílias, principalmente as que vivem do rendimento do seu trabalho por conta de outrem, vão empobrecer de tal maneira que não conseguirão manter um padrão de vida semelhante ao que tiveram no passado, antes desta sangria desatada de aumentar os impostos. Por outro lado, a economia irá paralisar uma vez que o emagrecimento não tratou de a proteger com medidas de relançamento e motivação e o que sobrará será um Estado aparentemente saudável mas com quase toda a gente doente à sua volta. Mais tarde esse mesmo Estado acabará por ser contaminado com a doença daqueles que o rodeiam e tudo voltará ao mesmo.
É por isto que eu não concordo com aquilo que está a ser feito. Há cirurgia a mais e exercício físico a menos. É necessário encontrar outra forma de tratar o assunto que seja mais prática, mais saudável e menos dispendiosa. É difícil? Claro que sim. Mas dá melhores resultados.

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