Notas soltas sobre as eleições legislativas

1 – A abstenção voltou a fazer estragos. 40% dos eleitores não foram votar. Uns porque não puderam, mas a esmagadora maioria porque não quiseram. Acho que já chega de dizer que a culpa é dos políticos e dos partidos. A culpa é das pessoas, que não querem saber, nem respeitam o valor do voto. Talvez preferissem viver num tempo em que não tinham esse direito. Em que comiam e calavam. Em que havia polícia política, repressão, falta de liberdade de pensamento e de organização, entre outras coisas. Quem não vota porque não quer, mais do que não ter direito a reclamar, não merece viver em democracia. Mesmo que não se revejam num partido, podem e devem ir às urnas espelhar esse sentimento.

2 – O PSD não tem propriamente um resultado histórico, conforme aconteceu por duas vezes com Cavaco Silva, em 1987 e 1991, mas tem de facto um grande resultado. Cavalgou a onda da contestação a Sócrates e deu-se bem. Mais uma vez acho que, pese embora o mérito de Passos Coelho, foi o PS que perdeu o Poder e não o PSD que o conquistou. Mas isso também pouco importa. Quem governa ou o faz bem ou vai para a rua.

3 – Sócrates passou a campanha a colocar culpas no PSD por tudo e mais alguma coisa. Consta até que o culpado do terramoto no Japão foi o PSD. Deu-se mal com essa estratégia. Os portugueses que votam, são cidadãos responsáveis e sabem distinguir quem lhes fala a verdade ou o seu contrário. A crise política criada com o chumbo do PEC IV tinha todo o sentido. Portugal queria mudar porque estava farto do PS e sobretudo de Sócrates.

4 – Aparentemente o PSD é o único partido que ganha lugares no Parlamento. Todos os outros perdem, mesmo o CDS. O Bloco perde 10 deputados e o PS 32. Se no PS esta perda é conjuntural, no dia em que voltar a ganhar eleições altera este valor, no Bloco é sintomática. Este partido tinha todas as condições para fazer um bom resultado, tendo em conta que a sua estratégia assenta no tirar partido da contestação e os últimos tempos foram propícios a isso. O resultado é óbvio. Mesmo com o país em transe com tanta dificuldade, o Bloco perde metade dos deputados. Esperar não espero nada, mas achava piada ver um assumir de responsabilidades interno com Louçã a explicar o que aconteceu e porque aconteceu.

5 – Passos Coelho não teve uma campanha fácil. Havia muita gente à sua volta a falar demais, uns a dizer verdadeiros disparates e ele próprio de vez em quando teve observações que davam a ideia de uma navegação á vista, o que é sempre complicado. Nos últimos dias a coisa acalmou-se para os lados da São Caetano à Lapa e o PSD entrou em velocidade de cruzeiro para a vitória. Nestas circunstâncias não há volta a dar. O mérito da vitória e o demérito da derrota é sempre do líder do partido. Quem acha que por ser cabeça de lista num distrito qualquer pode fazer a diferença, está muito enganado. Mais facilmente tira votos do que os acrescenta. Como tal foi Pedro Passos Coelho quem ganhou as eleições, tendo em conta que Sócrates as perdeu.

6 – No Algarve o PS teve um resultado quase catastrófico. Se a informação que tenho não está errada, elegeu apenas 2 deputados. Quando Santana Lopes foi candidato a primeiro-ministro, o PSD teve uma derrota pesada na região e apenas elegeu dois deputados. Não foi capaz de ganhar um único concelho. O que há em comum nestas duas derrotas e resultados? As portagens na Via do Infante. Não terá sido apenas isso, uma vez que estes dois últimos governos do PS foram os que mais maltrataram a região. Mas é sintomática a alergia que causa aos algarvios saberem que vão pagar injustamente a circulação numa estrada em que boa parte não foi construída em regime SCUT e foi paga por fundos comunitários. Pior do que isso, os algarvios conhecem bem a alternativa que neste caso não existe. A Avenida 125 é uma rua em mau estado, perigosa e onde vão voltar a morrer muitas pessoas quando as portagens forem impostas aos algarvios. Os de cá responderam da melhor maneira possível a esse sentimento de indignação derrotando veementemente o PS.

7 – Como já vem sendo costume, a esquerda quando sai do governo, neste caso o PS, nunca deixa o país melhor do que o recebeu. Foi assim em 1985, em 2002 e agora. Estranhas coincidências.

Há mais para dizer mas fica para o resto da semana.

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