Estranha forma de vida

Com cerca de 24 horas de diferença, o mundo foi surpreendido com dois acontecimentos trágicos, cada um com a sua escala e projecção.
Num dia um doido fundamentalista norueguês decidiu semear o pânico no centro de Olso, fazendo explodir um carro bomba bem no coração da cidade, junto de edifícios do governo numa praça muito movimentada.
Horas depois e não contente deslocou-se uns quilómetros a caminho de uma colónia de férias onde disfarçado de polícia e a pretexto de critérios de segurança na sequência do que se tinha passado, por sua iniciativa, em Olso, tirou a vida a dezenas de jovens seus conterrâneos que participavam num encontro de uma estrutura partidária, neste caso a Trabalhista (uma espécie de Juventude Socialista norueguesa).
No dia a seguir, o mundo tomou igualmente conhecimento da morte prematura mas mais do que previsível da cantora Amy Winehouse (nome curioso tendo em conta os seus hábitos de vida).
São dois episódios que se lamentam porque ambos trouxeram consigo a morte de pessoas na flor da idade, mas com características completamente diferentes.
Por curiosidade dei uma vista de olhos pela internet, nomeadamente por esse barómetro da opinião pública que são as redes sociais e facilmente concluí que a morte da cantora inglesa teve mais impacto emotivo que a quase centena de pessoas que perderam a vida inesperadamente.
Terá isto uma explicação? Claro que sim. Como tudo na vida.
A verdade é que a morte de um famoso não se mede nem compara em termos de impacto público com a de 100 anónimos e o mesmo acontece quando se pratica um crime ou quando se sabe de uma condenação, em situações semelhantes ou não. Quando morre um famoso há uma consternação pública muito maior e até um grau de tolerância para os disparates que fez em vida. Quando morre um anónimo, é apenas mais um. Mas quando morrem uma centena às mãos de um louco, aí a coisa toma proporções diferentes. No entanto, a opinião pública manifestou-se muito mais no sentido de pesar pelo falecimento da Amy Winehouse do que pelo sucedido na Noruega. E a mim isso causa-me estranheza.
Lamentando a morte da jovem britânica de 27 anos, a verdade é que tudo se assemelha a uma escolha que ela própria fez. Vivia desafiando os seus limites, embriagando-se e encharcando-se em drogas, mesmo nas alturas de maior responsabilidade. Subia aos palcos a cambalear, chegava mesmo a cair, não cantava, enervava o público que havia pago o bilhete para a ver e ouvir e se sentia defraudado, envergonhava os seus músicos e torrava a paciência ao restante staff. Em breves palavras: era uma má profissional.
Dirão agora que é o peso da fama que uns suportam e outros não. Sim, deve ser mesmo isso. Que fama ou sucesso tem o Zé dos Anzóis quando decide fazer exactamente o mesmo, embriagando-se todos os dias e consumindo drogas pesadas? São é opções de vida. Toda a gente tem problemas, seja famoso ou anónimo, mas nem todos lidam com eles da mesma forma.
Na droga entra quem quer e sai quem pode. E Amy bem que podia ter-se livrado dessa vida que a destruiu precocemente e lhe retirou a possibilidade de viver uma longa e promissora carreira na música. Fez a sua opção.
Já os jovens da Noruega apenas queriam viver, conviver e certamente construir uma vida própria. Alguém lhes cortou o sonho. O da Amy foi ela própria que tratou de decepar. Mas a opinião pública, porque se trata de uma famosa rebelde, emociona-se mais com este caso o qual não o deixará de transformar em mito.
Os mitos também têm de fazer para o merecer. Alguém simplesmente auto-destruir-se porque não consegue lidar com a circunstância de uma vida de fama e de dinheiro, podia fazer então a opção de vir para Portugal ganhar o ordenado mínimo nacional e ter de orientar a vida. Talvez nessa altura soubesse o que é lidar com problemas.

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