O tio Jerónimo



É curioso observar o que hoje ainda significa uma mais valia eleitoral ao PCP ou CDU ou o que quiserem chamar ao que resta da resistência comunista portuguesa que continua a acreditar no brilho do sol soviético de Moscovo: o seu líder Jerónimo de Sousa. É curiosa a ironia do PCP ser o partido que mais valoriza o colectivo em prejuízo do valor individual dos seus membros e no entanto ter no seu secretário-geral o único factor que pode levar alguém não comunista de alma e coração a votar no partido.
Efectivamente Jerónimo tem um ar bonzinho. É uma espécie de tio que qualquer português sensato não se importaria de ter. Tem qualidades pessoais notórias, das quais se destacam os dotes de dançarino e o seu fervor benfiquista que lhe confere de imediato e por inerência o estatuto de bom chefe de família. Para além disso tem uma imagem pessoal que o afasta do estereótipo do comunista resistente de ar sinistro. O Jerónimo é tudo menos sinistro. É simpático, cordial, não usa retórica e tem uma linguagem e um conjunto de expressões que toda a gente entende. É do povo.
Foi com Jerónimo que cheguei à conclusão que a história dos comunistas comerem criancinhas ao pequeno-almoço era uma falácia. Mais tarde percebi que não era no PCP que se comiam crianças. Foi também com Jerónimo que enxerguei que os gestos que eu fazia ao som da música numa discoteca não significavam dançar, mas apenas não estar parado. Foi com Jerónimo que compreendi que uma derrota nunca é perder alguma coisa, mas simplesmente não ganhar. Ou seja, de Jerónimo retirei alguns ensinamentos coisa que não aconteceu com outros líderes. Peço desculpa, com Santana Lopes aprendi que quando um bebé está na incubadora não se pode dar-lhe pontapés.
Isto para dizer que ontem no debate com Passos Coelho aconteceu a Jerónimo uma coisa que não me deixou tranquilo. O líder do PSD tratou-o com deferência e cordialidade mas não lhe passou cartão. Jerónimo tinha na sua frente um adversário político. Passos Coelho tinha apenas um senhor simpático que falava alternadamente consigo. Quem o líder do PSD queria mesmo apanhar e dirigir-se era ao omnipresente Sócrates.
Daí o debate não ter sido debate. Foi uma conversa de dois homens cordatos, um à procura de ser primeiro-ministro e outro à procura de não ver o seu partido minguar em número de votos.
Por esse motivo, não há muito mais a dizer a não ser que se a política fosse um concurso de beleza, Jerónimo seria a Miss Simpatia.

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