A tampa

O debate a que o país assistiu ontem à noite entre Sócrates e Portas teve momentos verdadeiramente divertidos ou cómico-trágicos se tivermos em conta o que este governo fez a Portugal. O primeiro deles foi a tampa que o candidato do PS - como Portas se fartou de relembrar aos telespectadores - levou do seu adversário. Não havia necessidade. Sócrates abriu a porta do entendimento a Portas e este fechou-lhe a porta. É cacofonia mas não há outra forma de explicar.
Sócrates fez lembrar aqueles tipos frustrados da escola que pediam namoro às miúdas mas só levavam tampas:
- Queres namorar comigo?
- Contigo? Ainda no outro dia dizias que eu era feia, bruta e mal cheirosa e agora queres namorar comigo? Vai-te catar que agora tenho outro pretendente.
- Mas quem?
- O Pedro.
- Esse? Eu sabia. Nunca me enganaste. És uma ingrata.
Relativizando, moderadamente, este podia ser este o diálogo entre o pretendente Sócrates e o pretendido Portas.
Mas Sócrates, qual rapazinho frustrado que acabou de levar tampa da garota, não se ficou e passou ao ataque. O problema é que quando passa ao ataque a sua morfologia nasal aumenta, o tom de voz altera-se e o seu comportamento cai nas imediações da exasperação com quem não lhe diz ámen a tudo. É nessa altura que vai esgaravatar nos “podres” da garota a forma de se vingar da tampa que acabou de levar. Mas já é tarde demais.
Numa desesperada tentativa de colocar o assunto ao nível subaquático, repescando os submarinos, Portas respondeu-lhe que os ditos foram encomendados pelos seus camaradas antecessores no governo e que ele, enquanto titular da Defesa Nacional e utilizador compulsivo da máquina fotocopiadora do respectivo ministério na hora da despedida, limitou-se a reduzir para metade o número de objectos flutuantes e submersíveis a adquirir.
- Mas quem os pagou fui eu!– lembrou Sócrates.
Ou seja, ficou o país inteiro a saber que os submarinos foram liquidados com cheques, eventualmente com o cartão Visa ou Multibanco da conta particular de Sócrates. Sim, foi tudo muito claro. Os submarinos foram pagos pelo cidadão José Sócrates CarvalhoPinto de Sousa, segundo o próprio. Esta foi a parte boa do debate em que respirei de alívio. Durante muito tempo vivi com a irremediável indignação que os submarinos do Portas tinham sido pagos com o dinheiro dos meus impostos e dos demais contribuintes desta grande nação à beira mar plantada. Afinal não foi assim. Os submarinos são do Sócrates que pode muito bem pegar neles e levá-los para o concelho da Guarda para fazer pendant com as lindas casas que projectou há uns anos atrás.
Por fim, não achei grande piada à capa transparente na qual Sócrates trazia o programa eleitoral do CDS, a qual estava vazia. Achei-a um pouco pobre, para não dizer possidónia. Estava à espera de uma bonita e luxuosa capa Louis Vuitton que é muito mais adequada à imagem estereotipada dos betinhos do CDS. Mas como foi Sócrates que a trouxe e partindo do principio que a Boss e a Armani não fabricam capas para documentos, apenas roupa e sapatos para carteiras de políticos endinheirados, foi mesmo de plástico. Fica mais barata e o FMI não se zanga.
E foi assim que vi o debate.

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