Um país de Futres

Paulo Futre foi um génio a jogar futebol que na minha opinião teve azar de ir para a um clube como o Atlético de Madrid, numa altura em que o principal campeonato era o de Itália. Ao que se sabe esteve perto de ingressar no AC Milan mas os milhões de Jesus Gil e um “lindo” Porche amarelo chegaram mais cedo ao Futebol Clube do Porto.
Após uma carreira que foi muito importante para o futebol português, Futre teve uma experiência de dirigente no Atlético de Madrid, com altos e baixos. Depois disso praticamente desapareceu dos holofotes mediáticos. Surge agora após uma conferência de imprensa onde outra coisa não fez que dar pontapés na gramática, delirar com cenários que pareciam saídos de uma rábula dos Gatos Fedorentos e por fim demonstrar que tinha jeito para muita coisa menos para tratar da organização de uma estrutura de futebol, mesmo a do Sporting.
Após ter percebido o efeito mediático que as suas baboseiras alcançaram, Futre tentou passar para opinião pública a ideia que tudo aquilo tinha sido premeditado, com o intuito de superar o choque que o país estava a viver com a demissão do Sócrates. Na parte que me toca, conforme devem imaginar, chorei desalmadamente de tristeza nesse dia.
Ou seja, quis nos convencer que afinal fala correctamente português, conjuga de forma acertada os tempos verbais – “vai vir chartes” é uma espécie de pérola linguística só comparável com as novas regras do acordo ortográfico - está perfeitamente ciente das novas exigências da organização de um clube e sobretudo tem uma visão estratégica da forma como o pode projectar nos grandes mercados onde o dinheiro brota por todos os cantos.
Neste chop suey de disparates, servido à mesa para chinês se deliciar, o que estranha mesmo é o hiper-fenómeno que à sua volta se gerou, ao ponto do seu livro estar no primeiro lugar do top de vendas da Bertrand. Mas não só. Futre tem sido convidado para tudo quanto é programa de rádio e televisão, fez anúncios publicitários e no domingo estava em cima do palco do Coliseu dos Recreios a apresentar um dos prémios dos Globos de Ouro e a babar-se para cima da Bárbara Guimarães, perante o olhar incomodado do seu marido Manuel Maria Carrilho. Normal. Não é fácil ver um pavão armado em Don Juan a galar a própria mulher e com Portugal inteiro a assistir.
Entretanto as suas principais expressões proferidas na famosa conferência de imprensa entraram para o anedotário nacional e são hoje utilizadas com frequência pelos portugueses. Eu próprio o faço, porque também tenho os meus defeitos e não me ponho de fora a pensar que o mal é só dos outros.
Haverá mérito nisto? Sim. O mérito do quanto pior melhor que parece ser hoje e cada vez mais um factor de nivelamento nas escolhas dos portugueses. Longe não virá o tempo em que alguém ficará famoso e conhecido por ter a arte e o engenho de soltar gases em público, as vezes que quiser, assobiando ao mesmo tempo para marcar o ritmo da performance. De seguida escreverá um livro para explicar a técnica e fará campanhas publicitárias para marcas de ambientadores domésticos perfumados.
Esta é uma espécie de gosto pelo masoquismo social, político e cultural que está cada vez mais evidentes nos dias que correm. Ficamos embevecidos pela parvoíce alheia e premiamos quem é mais tonto ou mais badalhoco. Em vez de termos referências de elevação, excelência e competência, preferimos ficar amarrados a clichés e ao estereotipo do quanto pior melhor. Por tudo isto e porque por vezes parecemos um imenso país de Futres, não admira que a poucos dias das eleições legislativas, estejamos ainda na dúvida se Portugal vai entregar o governo da nação ao pior primeiro-ministro de sempre que nos levou à bancarrota e ao descrédito internacional.

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